Marlon Brando Jr. morreu em 1° de abril de 2004 aos 80 anos. Na subsequente edição do Oscar, não recebeu a tradicional e pomposa homenagem que a Academia costuma realizar quando importantes nomes do cinema morrem. No entanto, em vida, faturou duas estatuetas – a primeira pelo papel de Terry Malloy, em “Sindicato dos Ladrões” (1954), e a segunda por Don Vito Corleone, em “O Poderoso Chefão” (1972) – e um punhado de indicações.
A Academia e Hollywood esnobaram a morte de Brando porque, durante toda a sua carreira, o ator se envolveu em diversas brigas com os mandachuvas dos grandes estúdios e sempre fez pouco caso do life style das estrelas.
Ele era um rebelde, ou como diríamos hoje em dia, não era um cara muito bom de network. Mas um rebelde tão talentoso, charmoso e belo que alterou definitivamente a maneira de atuar em frente às câmeras.
Antes dele, os atores transportavam as técnicas teatrais de interpretação para os filmes. Com ele, a naturalidade, a coloquialidade e a espontaneidade ganharam espaço.
Na “Era Pré-Brando”, os atores eram caricatos e distantes da realidade. Na “Era Pós-Brando”, murmurar, improvisar, dar as costas e não encarar às câmeras se tornaram regras para quem estava no métier. Em resumo, foi o filho mais pródigo do Método Stanislavsky e do Actors Studios.
Sua rebeldia, ou melhor, seu espírito livre não se limitou apenas à vida profissional. Se casou três vezes, teve diversos amantes (de ambos os sexos) e mais de nove filhos entre legítimos, ilegítimos e adotados. Apoiou abertamente o movimento dos Panteras Negras contra o racismo e as causas indígenas nos Estados Unidos.
Teti’aroa e sobrepeso
Ainda nos anos 1970, antes da febre do ambientalismo, comprou uma ilha na Polinésia Francesa – Teti’aroa – e decidiu que a transformaria em um resort sustentável. Com a grana, pagaria os altos impostos do pequeno pedaço de terra, desenvolveria uma estrutura de saneamento e reciclagem de lixo e empregaria os polinésios que quisessem trabalhar por lá.
Na década de 1990, quando não conseguia mais emagrecer, tinha o costume de ligar para as emissoras de rádios americanas que faziam chacotas a respeito do seu sobrepeso. Com a sua voz única, Mister Brando entrava no ar e se fazia respeitar pelos locutores e ouvintes.
O engraçado é que, mesmo com seus mais de 100 kg, ele mantinha a graça e a leveza. Quem duvida que um homem gordo e velho pode ser extremante sensual, precisa assistir a “Don Juan de Marco” (1995). Em uma das últimas cenas do filme, Brando e Faye Dunaway dançam de forma apaixonada e verdadeira. A interpretação dos dois astros põe a atuação romântica de muitos atores e atrizes jovens e sarados no chinelo.
A vida dele foi longa e eu já escrevi demais. Saiba agora quais são os três motivos para não esquecer Marlon Brando.
1 – Apesar de seu indiscutível talento, Bud – como era chamado pelos familiares – teve uma carreira cheia de altos e baixos. Entre os anos 1950 e 1960, viveu papéis que escreveram seu nome na história do cinema como o polonês Stanley Kowalski, em “Uma Rua Chamado Desejo” (1951).
Entre os anos 60 e 70, se afastou de Hollywood e participou de filmes menores como “Dois Farristas Irresistíveis” (1964) e “Appaloosa” (1966). Voltou ao esquemão com “O Poderoso Chefão” (1972), de Francis Ford Coppola.
Os dirigentes da Paramount não o queriam no papel. Argumentaram que, além de causar muitos problemas, o ator estava acabado. Coppola disse que não faria o longa sem Brando. Depois de muito lenga-lenga, os executivos decidiram que o ator só poderia participar do filme se passasse no teste… E que seu cachê seria de apenas 250 mil dólares – Brando estava acostumado a receber 1 milhão de dólares por filme.
O resto é história. Don Corleone se tornou um dos ícones do cinema mundial e, pelo papel, o ator recebeu o seu segundo Oscar. Após o longa, Brando fez os grandes “Último Tango em Paris” (1972) e “Apocalipse Now” (1979). Resumindo, foi um sobrevivente e sempre soube se reinventar quando tudo parecia acabado.
2 – Sempre fez o que quis e nunca saiu choramingando as consequencias de seus atos. Além disso, teve a sua rebeldia indomável imitada por James Dean nas telonas.
3 – Escreveu a autobiografia “Canções que a Minha Mãe Me Ensinou” com o jornalista Robert Lindsey e a lançou em 1994. Nela, o astro falou sobre a infância simples e difícil, os pais alcoólatras, a compulsão por comida e os bastidores de seus mais de 40 filmes. As técnicas de interpretação, a importância da voz para um ator e as relações com amigos e fãs também foram assuntos abordados. Os únicos que temas que Brando não tocou – por considerar “estúpido e degradante” – foram seus casamentos e seus filhos.
Em tom confessional, o ator revisitou seu passado com clareza e sem meias palavras nas 370 páginas do livro que é composto por histórias engraçadas, amorosas, tristes, dolorosas e uma série de cartas. Além disso, a obra conta com dezenas de fotos da infância, juventude, família, atuações teatrais, sets de filmagens e imagens da vida íntima do astro.
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Marlon Brando | Site oficial
www.marlonbrando.com
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